quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Reinaldo Azevedo, leitor de Safatle (final?)

Final? (este texto)
 
Na primeira parte dessa série nós vimos que, mesmo quando tenta ler um texto simples de Vladimir Safatle, um mero comentário "jornalístico" escrito em linguagem bastante acessível, Reinaldo Azevedo comete erro sobre erro de interpretação. E pior, o que se vê ali não são simples discordâncias, são distorções deliberadas do escrito, visando adaptar o texto a um determinado "Safatle Imaginário" que parece povoar os pesadelos do cronista.

A segunda parte foi um desvio nem tão inesperado, necessário para evidenciar uma característica do metodo argumentativo de Reinaldo: o ataque pessoal, em geral sem qualquer relação com o tema tratado. Como o Procurador Marcio Sotelo Felippe bem notou há algumas semanas, o blogueiro da Veja tem como norma utilizar aspectos pessoais para tentar desqualificar o interlocutor. Então, não foi nenhuma surpresa quando Reinaldo resolveu que o fato do pai de Vladimir Safatle ter terras em Goiás e ter tido algum problema com sem-terra da região de alguma forma torna inválidos os argumentos do filósofo sobre o autoritarismo do atual reitor da USP. Mais ou menos como a falta de cabelos de Reinaldo torna seus argumentos sobre o aborto menos relevantes.

A terceira e última parte dessa "leitura de uma leitura" segue logo abaixo. Nela eu analiso o primeiro texto de Reinaldo Azevedo sobre algum escrito de Safatle, no distante ano de 2009. O texto de Safatle é uma resenha das traduções de duas obras do filósofo esloveno Slavoj Žižek. O texto de Reinaldo é uma mistura complexa de interpretações erradas e conclusões sem fundamento. Como eu sou uma pessoa gentil, prefiro antes atribuir essa confusão à ignorância que à má-fé ou à desonestidade intelectual.

Um alerta ao leitor: Não é todo dia que eu tenho a oportunidade expor minha vasta ignorância sobre as obras de Lacan, Hegel, Marx e, por que não, Safatle e Žižek. Então procurei exercitar duas virtudes do texto filosófico desconhecidas de Reinaldo Azevedo, a humildade e a cautela. Não que o comentário a seguir seja um texto filosófico, não é. Mas o exercício da escrita pública "como um texto filosófico" me parece sempre dar melhores resultados que a mera emissão descontrolada de opiniões.

Um segundo aviso: o texto original já era bem longo, a análise que segue é, então, imensa. A maior causa foi quantidade enorme de erros a serem discutidos. É que a incapacidade de interpretação do blogueiro preferido de 9 entre 10 eleitores de Kátia Abreu é tão espantosa que eu não pude deixar de descer aos detalhes.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Quem lê tanta notícia? [4]

Futebol brasileiro é velado em Tóquio
Interrompida a refilmagem de "O Homem que queria ser rei"
O ator José Serra abandonou ontem aos berros o set de "O Homem que queria ser rei", refilmagem do clássico dos anos 70, que trazia Sean Connery e Michael Caine nos papéis principais. O filme, dirigido por José Padilha e estrelado pelos conhecidos atores brasileiros José Serra e Aécio Neves, é uma releitura da clássica história de Rudyard Kipling. Na versão moderna, dois privatas encontram um povo perdido no distante continente sul-americano. Após venderem ao estrangeiro toda a riqueza desse povo, os dois passam a ser tratados como deuses pela classe média local. Ao final, um deles é atingido por denúncias de enriquecimento ilícito e ambos tem que fugir rapidamente.
Elaine Catanhêde, uma das produtoras do filme, disse em entrevista a este blog que o arranca-rabo foi causado pelo ciúme entre os dois atores principais e por objeções de Serra ao roteiro, escrito pelo conhecido entrevistador de celebridades, modelos e atrizes Amaury Junior. Testemunhas afirmam que Serra, após ter acesso à última versão do roteiro, escrita na madrugada por Amaury durante uma noitada com Aécio no Rio, se enfureceu e foi embora gritando "Eles querem me derrubar". Aécio, que além de estrelar o filme também é co-autor do roteiro, não quis dar entrevista. O ator mineiro declarou apenas que não havia razão para tanto stress, já que roteiro ainda é provisório e realmente não está tão bom assim. "Literatura menor", disse Neves.
O roteirista Amaury Jr, aqui acompanhado pelas produtoras Elaine,
Dora e Míriam, nega ter se engraçado com Verônica Serra.



As Aventuras de Merval, O Imortal: O Caso das Falácias Lógicas

Merval Pereira, mesmo não sendo filósofo, com certeza conhece algum filósofo ou pelo menos algum professor de Filosofia. Afinal, nosso jornalista imortal é também membro da Academia Brasileira de Filosofia. Dessa forma, é imperativo supor que Merval, o Imortal, está familiarizado com o instrumento fundamental da Filosofia desde os tempos gregos, a lógica (não por acaso, a coleção de livros de Aristóteles conhecida como "Lógica" se chamava originalmente "Organon", palavra grega que significa, literalmente, "instrumento"). Isso com certeza explicaria a sua familiaridade com as falácias lógicas, demonstrada à exaustão em seu recente artigo "A ficção do Amaury". Achei o texto de nosso herói tão didático que resolvi reunir abaixo a lista das principais falácias utilizadas juntamente com os exemplos de sua utilização ao longo do texto.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Reinaldo e a defesa de Serra

Uma das (poucas) vantagens de se ler o blog de Reinaldo Azevedo é que ele não consegue ficar quieto nem quando mandam. Então ficamos sabendo antes qual será a linha de defesa do PSDB paulista e de José Serra. Isso vale para qualquer assunto e vale também, naturalmente, para o caso do livro da moda na blogosfera descolada nesse verão, "A Privataria Tucana".

domingo, 18 de dezembro de 2011

Quem lê tanta notícia? [3]

Shock and Awe: José Serra atingido por 344 bolinhas de papel
Kassab declara vitória na luta de classes
Prefeito paulistano e líder do Partido Serrista Demofóbico, Gilberto Kassab comemorou nessa semana a vitória da classe média alta paulistana na luta de classes municipal. Em churrasco de fim de ano num bar descolado da Vila Madalena, na presença de toda a base serrista da cidade, o prefeito discursou em tom triunfal. "Nossa administração acabou com qualquer dúvida sobre qual classe venceu a luta em São Paulo", declarou Kassab, "Os integrantes da classe média alta e da classe alta da cidade podem pegar seus carros importados e ocupar a Paulista para comemorar a vitória". O orçamento de 2012, que diminui o orçamento de bairros da periferia e aumenta os gastos nos bairros centrais reflete a derrota dos pobres. "Como em qualquer guerra, o vencedor fica com os despojos", declarou o ex-Secretário Municipal de Políticas Higienistas e pré-candidato a prefeito, Andrea Matarazzo. O ex-presidente Lula, que passou rapidamente pelo evento para cumprimentar o prefeito, não quis revelar porque saiu dali às gargalhadas mas aparentemente falava ao celular com Fernando Hadad, pré-candidato petista à prefeitura.

Santos participa de curso de futebol no Japão

Professores comemoram o final das aulas
O clube brasileiro Santos Futebol Clube participou hoje no Japão do disputadíssimo curso de Futebol Moderno, ministrado pelo Barcelona. Com vagas extremamente limitadas e um processo de seleção duríssimo, o curso de futebol moderno dá aos participantes uma visão completa das necessidades do futebol atual. "Nós procuramos demonstrar todos os aspectos do jogo, desde a preparação do jogador até o entrosamento da equipe e o papel do técnico", diz o professor titular Messi. O técnico do Santos, Muricy Ramalho, declarou após o curso que vai ter que repensar seu conhecimento sobre futebol. Neymar, ídolo do Santos, disse que nunca tinha imaginado que era possível jogar futebol da maneira ensinada pelo Barcelona. "Agora é lutar para passar na seleção de novo e voltar aqui ano que vem para continuar aprendendo", disse o craque.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Eu tive fora uns dias

Mas é só a gente sair de férias que começa a diversão? Eu tive que me segurar para não sair da água, largar a cerveja, entrar no chuveiro gelado da praia para tirar a areia e correr para o computador para escrever sobre o Index Librorvm Prohibithorvm rápido encenado pelos vetustos guardiões da moral e dos bons costumes públicos da grande imprensa brasileira. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Quem lê tanta notícia? [2]



Batalhão de Choque executa operação de reintegração de posse de Marcos Valério

Contrariando a previsão dos analistas que davam como certa a vitória conjunta do Ministério Dilma, Marcos Valério, o lendário operador do Mensalão, venceu pela terceira vez o Suspeito de Sempre, prêmio concedido anualmente pelo PIG a seus melhores alvos. Na categoria Revelação não houve surpresa, foram premiados os 73 invasores da reitoria da USP. Na categoria Repressão ou Barbárie, outro prêmio para a USP: Os professores de democracia do Batalhão de Choque da PM de São Paulo levaram o troféu. Já o prêmio Acima de Qualquer Suspeita foi novamente dividido entre José Serra e Aécio Neves.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Paris é para sempre


What about us? 
We will always have Paris.

Não se vai a Paris, pois Paris não é um lugar. Também não se entende Paris, pois Paris não é uma ideia. Paris acontece com você. Em você. E o poeta não podia estar mais errado. Paris é eterna, e não posto que é chama. É eterna exatamente apesar de ser chama.

Paris é o abismo entre o olhar e o beijo. Paris dura um ano, um mês, uma semana, um segundo, dura o espaço de tempo entre o sim e a lágrima. Paris é a língua estrangeira que invade a boca imprudentemente entreaberta. Paris é o sofá em frente à janela de onde se vê um número insensato de verdes. Paris é a praia deserta em um verão de 42. Paris é o fogo pulsando na lareira de uma casa estranha. Paris é o barulho da chuva que embala o sono da tarde.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Chamem a PF, a Abin, o Gilmar Mendes: milhares odeiam Tio Rei!

A campanha de Reinaldo Azevedo para musa de verão da direita estudantil sofreu ontem um forte revés. O candidato foi abalado por uma descoberta estrondosa e inédita: centenas, milhares de leitores falam mal dele nas redes sociais. O choque foi tão grande que ele entregou o caso à Polícia Federal. 

Arthur Virgílio, ex-senador e atual candidato a síndico de seu prédio, disse que vai ligar para Aécio e pedir a abertura imediata de uma CPI para investigar o caso. O ex-candidato e blogueiro regressista José Serra atribuiu a culpa pelo ocorrido a Lula, ao PT, a Dilma e ao aparelhamento das redes sociais. Serra declarou ainda que o PT mais uma vez copiou o PSDB, pois no governo Fernando Henrique já circulava uma mailing list anti-Reinaldo entre os ministros.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Reinaldo Azevedo, leitor de Safatle (Interlúdio)


Interlúdio (este texto)
Final?


Quando se trata de Reinaldo Azevedo é sempre necessário fazer uma pausa periódica para apontar os golpes abaixo da cintura. Golpes logo depois negados com a veemência daquele zagueiro que, após quase quebrar a perna do atacante adversário, levanta olhando para o juiz com cara de indignado e apontando para a bola que passou a cinco metros de onde ele estava.


A coisa é tão disseminada que talvez eu até faça uma coluna semanal chamada "Tio Rei está Nu", com as principais falácias e mentiras da semana. Não todas, por aí eu não faria outra coisa da vida.

sábado, 26 de novembro de 2011

Quem lê tanta notícia?

A nova novela das seis: Os Pupilos do Senhor Reitor

Entretanto, as passeatas em defesa de qualquer merda foram consideradas excessivamente escatológicas e continuam proibidas. A votação sobre a liberação de passeatas em defesa de qualquer porra foi suspensa quando a ex-ministra Ellen Graice ligou convidando todo mundo para uma visita a Amsterdã para comemorar a liberação das Marchas da Maconha.

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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Reinaldo Azevedo, leitor de Safatle (parte I)

Parte 1 (este texto)
Final?

Reinaldo Azevedo, desmoralizador de filósofos

Entre os textos publicados sobre a invasão da reitoria da USP de 2011, há um de Vladimir Safatle que Reinaldo Azevedo resolveu "desmoralizar" (palavra dele, não minha). Para manter o formato escolhido pelo colunista, seguem abaixo o texto de Safatle, em vermelho, de Azevedo, em azul, e meus comentários, em preto mesmo (mudei a cor do texto de Azevedo na introdução, de preto para azul, para evitar confusão).

O nome do post de Reinaldo, para que não paire nenhuma dúvida sobre sua opinião, é "A coluna abjeta e mentirosa de um professor da USP, colunista da Folha e partidário de Haddad". Apenas duas observações aqui. Reinaldo tem o cuidado de chamar a coluna de "abjeta e mentirosa" e não o colunista. Uma técnica comum para evitar problemas jurídicos. Segundo, a qualificação de Safatle como "partidário de Haddad" é interessante, pois expõe o objetivo implícito do colunista durante todo o episódio, atacar partidários (reais ou imaginários) de Fernando Haddad na USP. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O pensamento parece uma coisa à toa


 O lendário concerto dos Beatles na Praça Tahir

Então aquele rei feiticeiro, que governava mais pelo terror que pela sabedoria, criou um imenso calabouço mágico de paredes invisíveis. Quem era jogado ali nunca mais era visto. E nos séculos seguintes, muito tempo depois do feiticeiro, seus prisioneiros, seus castelos e seu feudalismo mitológico terem se tornado notas no rodapé dos livros de História, as mães dali ainda ameaçavam seus filhos que não queriam tomar banho, jantar, estudar Direito, Engenharia ou Medicina: 

"Menino, ou você se comporta ou vai acabar preso no arcabouço teórico". 




segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reinaldo Azevedo, leitor de Safatle (Introdução)

Introdução (este texto)

É bem provável que, além da Grande Muralha da China, a outra única estrutura humana que se veja do espaço seja o ego de Reinaldo Azevedo. A outra coincidência é que nos dois casos as estruturas servem para proteger uma civilização que já nem existe mais de invasões bárbaras mais imaginárias que reais. A analogia vai mais longe: como a Muralha antes dele,  pensamento de Reinaldo ficou anacrônico ali pelo século XVI.

Nesse sentido, os ataques do colunista a Marilena Chauí e Vladimir Safatle são exemplares. Os dois filósofos tem algo em comum: depois de obterem mestrado e doutorado na França, ambos se tornaram livre-docentes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP antes de completarem 40 anos (um feito raro em qualquer faculdade, quase impossível na Filosofia). Ambos tem uma obra sólida em suas áreas de especialização (vale lembrar que Marilena é considerada uma das maiores especialistas em Espinoza do mundo e que sua tese de livre-docência, "A Nervura do Real", é uma referência essencial para qualquer estudante daquele filósofo). E ambos são excelentes professores (e isso eu sei por experiência própria).

Eu digo tudo isso não para desqualificar previamente os argumentos de Azevedo, mas para deixar claro que ele não está tentando ler textos (ainda que textos "jornalísticos", comentários publicados em jornal e não textos técnicos de Filosofia) de qualquer acadêmico e sim de membros reconhecidos de uma certa elite intelectual brasileira. Gente que sabe bem o que escreve. Nesse caso, os argumentos do colunista deveriam estar ao menos próximos do nível daqueles apresentados pelos objetos de sua ira. Deviam pelo menos mostrar que o autor da crítica entende o que leu. Tragicamente, não será o caso. Reinaldo insiste em contrapor seu senso comum "refinado" a argumentos e termos com sentido razoavelmente preciso, expondo a cada momento tanto sua vasta ignorância sobre os autores citados ou comentados quanto sua incapacidade de interpretação de texto.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

The end of the Reader and the beginning of Writing

Sempre passa pela cabeça que, em fins de 2011, é indescritivelmente anacrônico criar um blog. Que talvez a Biblioteca de Babel já esteja completa. Ou que simplesmente não restem leitores, ou tempo aos leitores que restam, para mais uma coleção de impressões pessoais semi-organizadas. Mas a esperança acaba sempre vencendo o medo, não é não? Ainda que eventualmente a esperança se abrace ao PMDB, entregue ministérios inteiros ao PR e passe a achar a irmã do Chico um mal menor.

Mas voltando ao assunto.  O Google Reader durante algum tempo me permitiu fugir à necessidade de escrever sobre o que passa sob os olhos. Porque permitia compartilhar leituras e inserir algum comentário no fluxo do texto. Receber algum feedback, ver o que as pessoas estavam vendo. Algumas pessoas que eu gosto também gostavam do que eu compartilhava e comentava. Mas acabou. O Facebook do Google (do imortal Vicente Mateus, "A Antartica mandou umas Brahma para a gente comemorar") é só isso mesmo, um Facebook. Uma timeline. Uma confusão de sons e fúria significando nada. Uma distração, agora circular (o Reader, como todo mundo sabe, não era distração, era trabalho duro de verdade).

Assim, expulsos da terra de nossos pais pelo Império estrangeiro [Sim, mas além da busca precisa, do filtro de spam quase perfeito, do calendário sincronizado, da tradução automática gratuita, do compartilhamento de vídeos e dos documentos online, o que mais os romanos nos deram?], não esqueceremos jamais. Ano que vem no Google Reader, repetiremos a cada Dia dos Mortos pelos séculos que virão.

Enquanto isso, que remédio, blogam-se textos. Vambóra ver se escrevendo conseguimos salvar a civilização ocidental de si mesma. Ou o contrário, tanto faz. Eu não prometo nada. Minha vida é confusa, meu tempo é, ou pelo menos deveria ser, precioso e  escasso. Mas um ou dois posts por semana. As mesmas opiniões sem baliza nem freio que você lia em outro lugar. Resenhas de livros de amigos queridos. Ou de livros interessantes. Alguns links curiosos. Outros links aborrecidos, mas necessários.

É tudo que o mundo precisa nesse momento de crise. Mais um blog sobre o nada.