Final? (este texto)
Na primeira parte dessa série nós vimos que, mesmo quando tenta ler um texto simples de Vladimir Safatle, um mero comentário "jornalístico" escrito em linguagem bastante acessível, Reinaldo Azevedo comete erro sobre erro de interpretação. E pior, o que se vê ali não são simples discordâncias, são distorções deliberadas do escrito, visando adaptar o texto a um determinado "Safatle Imaginário" que parece povoar os pesadelos do cronista.
A segunda parte foi um desvio nem tão inesperado, necessário para evidenciar uma característica do metodo argumentativo de Reinaldo: o ataque pessoal, em geral sem qualquer relação com o tema tratado. Como o Procurador Marcio Sotelo Felippe bem notou há algumas semanas, o blogueiro da Veja tem como norma utilizar aspectos pessoais para tentar desqualificar o interlocutor. Então, não foi nenhuma surpresa quando Reinaldo resolveu que o fato do pai de Vladimir Safatle ter terras em Goiás e ter tido algum problema com sem-terra da região de alguma forma torna inválidos os argumentos do filósofo sobre o autoritarismo do atual reitor da USP. Mais ou menos como a falta de cabelos de Reinaldo torna seus argumentos sobre o aborto menos relevantes.
A terceira e última parte dessa "leitura de uma leitura" segue logo abaixo. Nela eu analiso o primeiro texto de Reinaldo Azevedo sobre algum escrito de Safatle, no distante ano de 2009. O texto de Safatle é uma resenha das traduções de duas obras do filósofo esloveno Slavoj Žižek. O texto de Reinaldo é uma mistura complexa de interpretações erradas e conclusões sem fundamento. Como eu sou uma pessoa gentil, prefiro antes atribuir essa confusão à ignorância que à má-fé ou à desonestidade intelectual.
Um alerta ao leitor: Não é todo dia que eu tenho a oportunidade expor minha vasta ignorância sobre as obras de Lacan, Hegel, Marx e, por que não, Safatle e Žižek. Então procurei exercitar duas virtudes do texto filosófico desconhecidas de Reinaldo Azevedo, a humildade e a cautela. Não que o comentário a seguir seja um texto filosófico, não é. Mas o exercício da escrita pública "como um texto filosófico" me parece sempre dar melhores resultados que a mera emissão descontrolada de opiniões.
Um segundo aviso: o texto original já era bem longo, a análise que segue é, então, imensa. A maior causa foi quantidade enorme de erros a serem discutidos. É que a incapacidade de interpretação do blogueiro preferido de 9 entre 10 eleitores de Kátia Abreu é tão espantosa que eu não pude deixar de descer aos detalhes.