segunda-feira, 25 de junho de 2012

A psicologia de porta de UTI

You lock the door and throw away the key
There's someone in my head but it's not me.

Apesar de ter um diploma de Psicologia e estar mesmo fazendo um doutorado em Psicologia do Desenvolvimento, eu nunca exerci qualquer prática clínica e sempre procurei me manter a uma distância segura de terapeutas e terapias. Veja bem, não estou dizendo que eu sou um iluminado que não precisa de ajuda, de alguém com quem falar, mesmo de algum remédio que me dê alegria. Longe disso. Muito longe disso. Mas precisar de alguma ajuda para conseguir ir em frente não se traduz em fechar os olhos para o que o nome "terapia" designa hoje.


Em psicologia, "terapia" é o nome dado às práticas clínicas baseadas nas inúmeras teorias que se desenvolvem como reação à psicanálise, isto é, nas teorias que nascem da trágica constatação de que os escritos de Freud (e depois de Lacan) são muito difíceis de entender, sua prática extremamente dolorosa e suas consequências mais difíceis ainda de aceitar. Aliás, essa divisão é bastante clara mesmo na fala comum: se alguém nos diz que está "fazendo terapia", nós imediatamente sabemos que o terapeuta não é um psicanalista. Se fosse, a mesma pessoa nos diria que está "fazendo análise".


Essa psicologia ingênua por opção vai buscar abrigo em repaginações do senso comum, em alguma biologia simplista e na medicalização psiquiátrica, se transformando rapidamente em uma espécie sofisticada de "cargo cult" do sintoma. O princípio fundamental de um "cargo cult" é a crença de que se as aparências (as pistas de pouso, os hangares, os armazéns) forem reproduzidas, a essência (a carga em si) voltará a aparecer. No caso da Psicologia do Sintoma, o dogma fundamental é que se os efeitos puderem ser eliminados de alguma forma, se o comportamento manifesto do paciente puder ser normalizado, suas causas vão desaparecer (ou no mínimo se tornar irrelevantes). Para todos os efeitos práticos, a essência do ser se iguala a sua aparência.

sábado, 16 de junho de 2012

Combray a pururuca

Tem esse problema de atrasar as prestações do karma, quando vem a cobrança, com todos os atrasados acumulados mais juros e multa, não tem site com Fale Conosco, 0800 com musiquinha de elevador ou departamento de fidelização para renegociar a dívida. Ao contrário das telefônicas ou das empresas de TV a cabo, o karma não precisa nem fingir que se importa. O karma, crianças, não vai estar enviando um novo boleto em 5 dias úteis.

O primeiro aviso veio logo no inicio do ano, uma lesão no menisco que acabou em uma operação razoavelmente simples e, guardadas as proporções, indolor. Isso em abril, com direito a dez dias de antibiótico. Logo em seguida um cisto perto da orelha se revoltou com a situação e ficou do tamanho de uma bola de ping-pong. Dermatologista, punção e mais 7 dias de antibiótico (dessa vez com o dobro do queijo, digo, da dose). Mas isso era só o aquecimento.