quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

As Aventuras de Merval, O Imortal: O Caso das Falácias Lógicas

Merval Pereira, mesmo não sendo filósofo, com certeza conhece algum filósofo ou pelo menos algum professor de Filosofia. Afinal, nosso jornalista imortal é também membro da Academia Brasileira de Filosofia. Dessa forma, é imperativo supor que Merval, o Imortal, está familiarizado com o instrumento fundamental da Filosofia desde os tempos gregos, a lógica (não por acaso, a coleção de livros de Aristóteles conhecida como "Lógica" se chamava originalmente "Organon", palavra grega que significa, literalmente, "instrumento"). Isso com certeza explicaria a sua familiaridade com as falácias lógicas, demonstrada à exaustão em seu recente artigo "A ficção do Amaury". Achei o texto de nosso herói tão didático que resolvi reunir abaixo a lista das principais falácias utilizadas juntamente com os exemplos de sua utilização ao longo do texto.


O argumentum ad hominem
A falácia mais utilizada ao longo do texto é um velho conhecido de qualquer discussão na Internet, o "argumento ad hominem" - a utilização de fatos pessoais sem relação com os pontos do debate para desqualificar e invalidar (de forma logicamente falsa) os argumento do adversário. Exemplos do texto:

a) Os blogueiros que deram publicidade ao livro de Amaury Jr. são chamados de "blogueiros chapa-branca" e "blogueiros ditos independentes". Portanto, o que se viu foi uma operação de "propaganda política" contra José Serra.
b) O autor, Amaury Jr., é primeiro caracterizado como "membro da equipe de campanha da candidata do PT" (a "candidata do PT", incidentalmente, é ela mesmo que você está pensando: Dilma Roussef, presidenta da República - estaria Merval, o Imortal, sugerindo que a eleição de 2010 foi ganha às custas dos crimes atribuídos a Amaury?), depois como "propagandista da campanha petista". O livro que Amary escreveu então "continua sendo parte da sua atividade como propagandista da campanha petista".
c) Temos também uma lista dos crimes atribuídos a Amaury pela Polícia Federal. No livro Amaury alega inocência em todos os casos. Merval lista as acusações e as justificativas apenas para concluir que "Amaury tem que se explicar antes de acusar os outros", a coroação do "ad hominem": se Amaury é acusado de crimes então suas acusações contra outros são falsas. Sinceramente eu fiquei sem saber por que motivo Merval não escreveu também longos artigos em defesa de Orlando Silva quando o ex-ministro foi acusado por um criminoso condenado. Mas como veremos abaixo, criminosos são boas fontes.
d) Só para não esquecer que política é uma coisa suja e feia, a escolha do nome do livro é "uma tomada de posição política do autor contra as privatizações". Além disso, esse mesmo autor (o danadinho) "se alinha aos que consideram que ter uma conta em paraíso fiscal é crime". Esse último exemplo inclusive mistura uma nova falácia, a falsa generalização: Amaury está discutindo crimes que usam paraísos fiscais como instrumentos, não dizendo que todos os usos de paraísos fiscais são criminosos...
e) Ah, não vamos esquecer o título e a frase final. "A Privataria Tucana" é "ficção"

O argumentum ad verecundiam
Esse é o famoso apelo à autoridade. Nessa falácia indutiva, a veracidade da proposição é falsamente produzida a partir da posição de alguém ou algum grupo que é supostamente especialista no assunto em questão. Existe a possibilidade lógica de se construir um argumento não falacioso apelando para a autoridade. Isso tem a forma:
1) Fulano afirma que A é verdadeiro.
2) Fulano é um especialista reconhecido nesse assunto.
3) A maioria dos especialistas nesse assunto concordam com Fulano.
4) Portanto há uma grande possibilidade de A ser verdadeiro.
Observe, porém, que mesmo a forma correta acima sequer trata de A em si, apenas da afirmação de Fulano sobre A.

No caso de Merval, a autoridade da "grande imprensa", que tem naturalmente "mais responsabilidade" que os "blogueiros ditos independentes", é a justificativa do silêncio. É necessário tempo para analisar o livro, verificar se há dados novos e examinar as provas. A responsabilidade da grande imprensa exige esse tempo. Tempo que estranhamente não foi exigido quando se publicou que milhares de reais eram entregues em dinheiro na Casa Civil. Ou, de novo, quando Orlando Silva foi acusado de receber propina na garagem do Ministério. Ou em qualquer outro caso envolvendo qualquer personagem dos governos Lula e Dilma. Para Merval, a responsabilidade da grande imprensa prova que não se está diante de um caso de dois pesos e duas medidas. O clássico argumento da autoridade.

A Negação do Antecedente
Nesta falácia, usa-se o truque de confundir condições necessárias com condições suficientes. para se chegar a uma conclusão que não é suportada pelas premissas apresentadas. Exemplo do texto:
1) Roberto Jefferson participou do esquema do mensalão, portanto suas denúncias tem credibilidade;
2) Durval Barbosa participou dos crimes que culminaram na prisão do governador JOsé Roberto Arruda, portanto suas denúncias tem credibilidade;
3) Amaury Jr. não participou dos crimes que denuncia, portanto suas denúncias não tem credibilidade;
A confusão que Merval quer causar na cabeça do leitor é clara, ele deseja induzir a crença que uma condição suficiente para se denunciar um crime (ter participado do crime) seja considerada condição necessária para se denunciar esse mesmo crime. Ou seja, apenas criminosos merecem credibilidade. Talvez isso explique porque nossa imprensa tem sido constantemente o cliente final do produto de crimes (materialmente, a entrega a terceiros de gravações judiciais sigilosas - o jornalista que recebe as gravações pode não estar cometendo o crime, mas tem perfeita consciência que quem entrega a gravação é um criminoso).

O Non Sequitur
Non sequitur é latim para "não segue". É o uso de uma falsa causa para justificar um efeito qualquer.

Merval escreve: "Acontece que passados 17 anos do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, e estando o PT no poder há 9 anos, não houve um movimento para rever as privatizações." e isso é um argumento para determinar a falsidade das conclusões do livro. Na forma simples da falácia, Merval esta afirmando que como não houve movimento do PT para rever as privatizações então não ocorreram casos de corrupção durante as privatizações.

Conclusão
Como se viu, Merval aparentemente merece sua cadeira na Academia Brasileira de Filosofia. O uso preciso e avassalador de um grande número de falácias encadeadas, com o objetivo de desqualificar o livro, o autor e mais qualquer um empreste credibilidade aos dois, indica que estamos de fato na presença de um mestre da Lógica. Ou do enviado de alguém realmente desesperado... 

Um comentário:

  1. Cada vez fica mais evidente o tipo de bandido que denunciou Arruda - 40 processos por corrupção, chantagem, desvio de dinheiros públicos, formação de quadrilha. Foi baseado nesse indivíduo, Durval Barbosa que se cassou e prendeu o melhor governador da historia do Distrito Federal. Que crédito merece esse bandido que, segundo os blogs de Lauro Jardim (Veja) e Noblat está sendo processado por pedofilia? E agora esse Durval se beneficia por ser delator. Se cassa e se prende o melhor governador e se extinguem processos do delator-criminoso. Vivam os Titãs: Que país é esse?

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